Servidores do Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista, e do Hospital Regional Sul Ottomar de Sousa Pinto, em Rorainópolis, denunciam falta de material e dificuldades para trabalhar Foto: Divulgação

Profissionais de saúde denunciaram ao Roraima 1 que os hospitais do Estado não têm capacidade para atender pacientes com suspeitas de covid-19 (doença provocada pelo coronavírus), muito menos com casos confirmados. De acordo com eles, a falta de equipamento e de locais adequados são os problemas que mais os afligem.

As situações são parecidas no Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista, e no Hospital Regional Sul Ottomar de Sousa Pinto, em Rorainópolis.

Servidores do HGR denunciam que, por falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e de material, há pacientes do Grande Trauma que ficam até três dias sem tomar banho.

“Faltam até compressas de pano. Para completar, recentemente fecharam a porta do GT [Grande Trauma] que dá acesso à saída de emergência para levar ao centro cirúrgico, dificultando e colocando em risco a vida de quem precisa passar por cirurgia”, destacou um funcionário.

Outro servidor relata que a porta do trauma que dá acesso ao corredor da sala de descanso dos médicos e ao bloco E foi parafusada de forma “grotesca”.  Ele reforça a denúncia do colega de que pacientes agora têm de dar a volta passando pelo pronto-socorro até chegar ao centro cirúrgico e à ortopedia.

“Cada vez mais complicado! Fecharam a porta que dá acesso à farmácia, laboratório, CME, enfim, dificulta muito mais nosso trabalho, tornando cansativo. Isso sem falar que os ‘óbitos’ terão que passar no meio dos pacientes do PAAR [Pronto Atendimento Airton Rocha]. Não seria mais fácil colocar um vigia na porta? Hoje, teve um caso complicado: um paciente parou no bloco, vieram correndo para o trauma e deram de cara com a porta lacrada. Voltaram e entraram pelo PAAR, mas o paciente foi ou já estava em óbito. Isso são alguns dos imprevistos”, denunciou outro técnico.

Porta do trauma que dá acesso ao corredor da sala de descanso dos médicos e ao bloco E foi parafusada de forma ‘grotesca’ Foto: Arquivo pessoal

Ainda conforme a denúncia dos profissionais de saúde, têm sido frequentes a falta de material, de servidores e a “economia” do pouco que se tem para trabalhar.

“Não temos maqueiros suficientes. Pacientes têm de ficar nos corredores esperando que um técnico de enfermagem empurre a maca. Não sei em qual POP [procedimento operacional padrão] estão se baseando. A farmácia se nega, às vezes, a dar material à enfermagem, alegando que nós acabamos tudo”, desabafa.

Em um dos plantões, uma técnica de enfermagem informou que colocaram à disposição dos profissionais apenas uma garrafa de álcool em gel, 23 máscaras, 2 aventais descartáveis, que deveriam ser usados por 22 pessoas: 18 enfermeiros, 2 fisioterapeutas e 4 médicos.

O básico também falta no HGR. Sabão para lavar as mãos e papel-toalha para secá-las. Não há também óculos de proteção nem gorros. “Estamos usando propés [uma espécie de sapatilha descartável] para colocar na cabeça”, reclama.

Sul do Estado

No Hospital Regional Sul, em Rorainópolis, que atende boa parte da região, além dos equipamentos de proteção individual e de itens básicos, falta material de limpeza e, quando tem, é “controlado”.

“O chefe da limpeza faz é ‘rediluir’ os produtos de limpeza: com um litro de água sanitária, ele faz outros quatro; com um detergente, a mesma coisa. E ainda briga com a equipe dizendo que estão gastando demais”, relatou um servidor.

Ele ressalta que o material de limpeza é “regado”. “O chefe de limpeza brigou com a gente dizendo que estávamos usando muito papel-toalha, sendo que ele só começou a entregar esse tipo de item e papel higiênico depois que uma comitiva esteve aqui e ficou surpresa quando dissemos que não tínhamos onde secar as mãos”, disse.

Apesar de o hospital ter apenas um respirador, equipes foram treinadas para atender pacientes com problemas respiratórios e casos suspeitos de covid-19.

“Uma sala foi criada para essa finalidade. É bem arejada, colocaram equipamentos adequados, mas só há um respirador. Outra turma vai ser formada para atender quem aparecem com sintomas de coronavírus”, concluiu.

Rotina

O presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Roraima (Sindprer), Melquisedek Menezes, disse ao Roraima 1 que as denúncias feitas pelos servidores são rotineiras.

“Elas [denúncias] existem todos os dias, todos os minutos, noites. A categoria denuncia as condições de trabalho não apenas na capital, mas, principalmente, no interior. Por isso, protocolamos ontem, tanto para o governo do Estado quanto para a Prefeitura de Boa Vista, as solicitações e providências iminentes para diminuir o impacto na saúde do trabalhador em decorrência da covid-19 e a situação da população de Roraima”, assegurou.

Sem resposta

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, que não se manifestou até a publicação desta matéria.

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