Dois fatos vão marcar este fim de ano, na política, e que deverão ter sérias repercussões já no início de 2020. Um deles é a decisão do vereador Linoberg Almeida (Rede) de recorrer à Justiça para tentar desarquivar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que visa investigar irregularidades na contratação da empresa Senapav para realizar o serviço de coleta de lixo em Boa Vista. Caso seja desenterrada a CPI do Lixo, será o momento definitivo para mostrar quais vereadores, no fim de mandato, estão dispostos a cumprir com o seu papel para o qual foram eleitos, que é fiscalizar o Executivo municipal.
Durante três anos, denúncias de irregularidades na administração da prefeita Teresa Surita (MDB) não faltaram, em especial em licitações para contratar obras e serviços milionários, inclusive com alguns casos indo parar na Justiça. Mas pouquíssimos vereadores mostraram-se dispostos a fiscalizar ou ao menos cobrar transparência nas ações municipais. Passaram três anos no bem-bom das indicações, concessão de títulos honorários a personalidades e nomeação de ruas nos bairros de Boa Vista. E uma possível retomada da CPI do Lixo seria o desfecho de uma legislatura apática que até aqui deixa muito a desejar.
Outro fato importante foi a decisão tomada ontem, pelas diversas categorias da Polícia Civil de Roraima, em assembleia geral, de entrarem em greve caso o governador Antonio Denarium não vete o Projeto de Lei 009/2019, que concede reajuste salarial apenas para os delegados. O representante do Sindicato dos Servidores Civis do Estado de Roraima estava presente ao evento e afirmou que as demais categorias também acompanharão os policiais, caso o governador não vetar o projeto.
Diante de uma “sinuca de bico”, este é o teste político definitivo do governador Denarium, que poderá começar o ano novo com greve geral de todas as categorias, o que empurraria o Estado para uma crise sem precedentes, isto mediante a uma realidade em que os principais setores já enfrentam sérios problemas devido a onda imigratória venezuelana. Sancionar o PL para manter o privilégio de apenas uma categoria é a dúvida que vai embalar o sono do governador daqui para frente.
Está óbvio que a tática do governo de tentar justificar o projeto de lei não vai convencer a opinião pública, muito menos as demais categorias de servidores públicos, que há pelo menos cinco anos pedem reposição salarial ao menos para compensar a inflação. Isso fora outros direitos negados para todas as categorias, como enquadramento e progressões.
O povo já mostrou que, apesar de suas contradições, ele tira do poder aqueles políticos que ousaram a promover atos desastrosos, a exemplo do governo Suely/Neudo Campos, guindado ao poder sob grande expectativa de mudanças, mas que foi sacado com a mesma intensidade diante da grande decepção, sofrendo uma histórica derrota nas urnas mesmo tendo a máquina nas mãos. E o próprio governador Denarium acabou eleito sob essa onda de insatisfação e de esperança de que um “não político” bolsonarista iria promover a transformação.
A insatisfação com o atual governo é geral, do funcionalismo público à população que não vê melhorias no atendimento público de saúde, na segurança pública e na educação, cujas escolas estaduais encerraram o ano com falta de transporte escolar, na zona rural, e merenda escolar racionada, inclusive escolas na Capital chegaram ao ponto de oferecer apenas quatro bolachas com um composto lácteo para os alunos.
Esse é o cenário de fim de ano, período em que geralmente não se pode ficar cochilando, pois é nessa época que os governantes costumam empurrar decisões goela abaixo que favorecem a uns e prejudicam a maioria. O ano de 2020 promete, uma vez que o eleitor irá avaliar os grupos políticos na primeira eleição municipal depois de um ano do governo Jair Bolsonaro. Os políticos que fiquem espertos…
*Colunista