Mais uma para quem quiser investigar. A Prefeitura de Boa Vista abandonou a obra de duplicação da ponte que interliga os bairros Cidade Satélite e Jardim Caranã, logo após os trabalhos serem iniciados, em abril passado, e já deu início a uma nova obra de duplicação de outra ponte, desta vez a que interliga o Cidade Satélite ao Sílvio Leite.
As duas pontes sobre o Igarapé Caranã foram recém-construídas em pontos diferentes para facilitar a mobilidade urbana de quem mora no Cidade Satélite, já que antes disso só era possível sair e entrar para aquele bairro pela Avenida Carlos Pereira de Melo. A primeira ponte, na Avenida Parimé Brasil, foi entregue há cerca de dois anos. A segunda, na Avenida Padre Anchieta, tem um ano e três meses que foi inaugurada.
Outro fato em comum é que essas duas obras fazem parte do Plano de Mobilidade Urbana, que consumiram R$65 milhões, cujos gastos foram realizados sem a devida transparência. Até hoje não se sabe o valor dessas pontes e suas especificações. O que se sabe é que elas já deveriam ter sido construídas no porte daquelas avenidas, com quatro pistas de rolamento, uma vez que havia recursos suficientes para isso.
No entanto, as pontes acabaram sendo erguidas em um tamanho subdimensionado, bem estreita para a estrutura das avenidas Parimé Brasil e Padre Anchieta, afunilando o tráfego nessas duas vias de grande movimentação. Como o Cidade Satélite passou a abrigar os maiores condomínios populares verticais, não se sabe o motivo pelo qual as pontes não foram construídas dentro do padrão.
Agora será necessário um custo maior, além do desperdício de recursos públicos, uma vez que será preciso destruir parte do que foi feito para fazer as adaptações necessárias para a duplicação das pontes. E ainda pairam dúvidas inquietantes: já não constariam no projeto original pontes com quatro pistas de rolamento, mas foram entregues pontes com estrutura reduzida?
O país está cheio de esquemas de corrupção em que obras acabam sendo construídas com um tamanho menor para sobrar mais dinheiro para o bolso de políticos e empreiteiros. Em Roraima, já houve casos de grandes empreiteiras que abandonaram obras alegando que não conseguiam mais pagar propinas para a maracutaia de políticos.
Como não há informações sobre as obras de mobilidade urbana, surgem especulações e desconfianças a respeito das obras de duplicação de pontes. Inclusive o trabalho de uma delas foi paralisado logo após a obra ser iniciada, bem antes de o inverno começar. Detalhe: no local nunca houve placa com informações da obra, valores e origem dos recursos.
O curioso é que as duplicações só foram iniciadas depois que informações passaram a ser solicitadas sobre o Plano de Mobilidade Urbana via Lei de Acesso à Informação e, depois de negadas, passaram a ser solicitadas judicialmente. E assim, até hoje ninguém sabe os valores individuais nem as especificações não só das pontes, mas de tudo o que realizado pela Prefeitura de Boa Vista.
Esse é mais um caso rumoroso em busca de respostas e explicações de como uma montanha de dinheiro foi gasta. Lembrando que esse recurso, na ordem de R$65 milhões, foi oriundo de um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal, autorizada pela Câmara de Vereadores, que começará a ser pago pela Prefeitura somente na gestão do próximo prefeito ou prefeita.
Ou seja, a conta fatalmente chegará para nós, contribuintes boa-vistenses, já sufocados por impostos e pelo arrocho em um Estado com alto custo de vida. Mais um motivo para os órgãos fiscalizadores agirem rapidamente. Ou vão continuar tratando a Prefeitura como um poder intocável?
*Colunista