Na tentativa de desviar o foco sobre qualquer possibilidade de se investigar os gastos milionários da administração da prefeita Teresa Surita (MDB), os vereadores foram induzidos a se mobilizar em torno de um movimento chamado de “Operação Grito de Socorro” a fim de sensibilizar as autoridades federais para a questão da imigração desordenada.   Chegaram inclusive à infeliz ideia de fechar a Câmara  como forma de protesto, mas aí desconfiaram  que a população poderia descobrir que aquela Casa  não iria fazer falta, então desistiram da proposta.

A ideia é mobilizar todos os poderes, entidades representativas e a sociedade de uma forma geral para que se juntem com a finalidade de cobrar do Governo Federal que assuma suas responsabilidades em setores essenciais, como saúde, segurança e educação.  Tem até vereador falando em ir para a frente do Congresso Nacional protestar como forma de alertar a opinião pública nacional.  Os aliados da prefeita falam inclusive que a ideia não era fechar fisicamente a Câmara, e sim “fechar o foco de todos os  assuntos” da Casa em cima  da imigração desordenada.
É justamente isso que a base aliada governista e a prefeita Teresa querem, pois eles sabem que se criou no inconsciente coletivo roraimense que os venezuelanos são culpados por tudo.  Sendo assim, a mobilização dos vereadores tem a missão de jogar um balde de água fria na criação da CPI do Lixo para investigar os fortes indícios de irregularidades no pagamento, feito pela Prefeitura, para uma empresa paulista responsável pela limpeza e coleta de lixo urbano na cidade e áreas indígenas.
Enquanto os vereadores ficam gritando sobre a situação da imigração, obrigação que deveria ser das autoridades federais, a opinião pública desvia  sua atenção para os venezuelanos, assunto que fatalmente gera polêmica acalorada entre prós e contras, incluindo os que em tudo enxergam xenofobia.  É tudo o que Teresa Surita quer para que não seja criada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo do lixo em Boa Vista. Inclusive os aliados da prefeita fazem de tudo para abafar a CPI do Lixo ou fazer as pessoas acreditarem que não há essa necessidade, numa dissimulação política bem planejada.
O que muitos não sabem é que essa CPI tem em mãos um grande escândalo a ser investigado, que é a seguida contratação da mesma empresa paulista, a Sanepav, durante os cinco mandatos da prefeita, para cuidar do lixo e da jardinagem, o que já movimentou algo em torno de R$400 milhões! É muita grana em jogo que, somada a outros gastos com empresas de fora, chegam a bilhões para uma Prefeitura pobre de uma pequena cidade que cabe dentro de um bairro de São Paulo, onde a mesma empresa cobra um valor mais baixo para fazer o mesmo serviço.
A pressa para abafar o assunto ocorre no mesmo momento em que a Assembleia Legislativa de Roraima criou, instalou e deu início aos trabalhos da CPI da Saúde, a qual tem sob sua responsabilidade a apuração de um histórico esquema de corrupção na saúde pública de Roraima.  A criação da CPI do Lixo é importantíssima para que o Estado de uma forma geral possa ser passado a limpo.  Ou a onda bolsonarista de moralização da política e do bem público era só uma farsa, como muitos já vêm desconfiando?
*Colunista

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