Não é uma boa ideia esta de fechar as portas da Câmara de Vereadores de Boa Vista como protesto a fim de sensibilizar as autoridades federais para a grave questão da imigração em Roraima. O problema de tomar essa decisão é a população perceber que o Legislativo não irá fazer falta alguma estando de portas fechadas ou não. É certo que a chegada em massa de venezuelanos é um dos principais problemas, mas os vereadores têm outros problemas urgentes para tratar na cidade.
A questão dos venezuelanos é séria, mas é uma obrigação dos parlamentares federais. Aos vereadores, há muito a ser feito para que Boa Vista não entre em colapso, especialmente na fiscalização da montanha de dinheiro gasto em obras milionárias. O dinheiro que poderia estar sendo aplicado na saúde e na educação infantil está indo parar no bolso de empresários sediados em outros estados, especialmente São Paulo.
Mas, em vez de cumprirem com sua obrigação para a qual são bem pagos, alguns ficam fazendo jogo de cena com a situação dos venezuelanos. O que o contribuinte quer ver é seu dinheiro sendo bem aplicado para que não seja desviado para outros fins senão para Boa Vista enfrentar os problemas advindos principalmente da imigração desordenada.
A prefeita Teresa Surita (MDB) precisa explicar onde e como gastou os R$60 milhões em um obscuro projeto de mobilidade urbana. Esse dinheiro, tomado de um empréstimo federal, vamos começar a pagar na gestão do próximo prefeito ou prefeita. Também precisa ser esclarecido o gasto de R$400 milhões com uma empresa paulista, a Sanepav, para realizar coleta de lixo e jardinagem responsável pela fachada da cidade.
Também precisam ser passado a limpo os gastos não menos milionários com reformas de praças públicas e de calçadas. Nunca houve transparência sobre a aplicação desse dinheiro e boa parte dos vereadores nunca se preocupou com isso. Muito pelo contrário, são coniventes com a falta de transparência, inclusive barrando emendas e fiscalização no Orçamento municipal.
Se estivessem fazendo a lição de casa, não haveria obras de creches abandonadas nos bairros, postos de saúde e Hospital de Criança com atendimento precário, nem bairros submersos na lama e sitiados por crateras. Inclusive haveria recursos municipais para impedir que crianças venezuelanas ficassem na rua, pedindo comida e esmola nos semáforos, feiras, supermercados e estacionamentos.
As eleições municipais estão se aproximando e muitos eleitores estão cientes desses jogos de cena que costumam ocorrer. Quem sabe a população até concorde que se feche a porta do Legislativo, mas para que os vereadores fossem andar pela cidade, de ônibus, para conhecer o sofrimento dos assalariados e das famílias que moram onde não há jardinagem de fachada nem asfalto em avenida principal, como Teresa gosta de fazer nas áreas centrais para servir de cenário para suas propagandas.
Aí, sim, iríamos aplaudir de pé quando vereador andasse de ônibus, fosse aos postos de saúde, metesse os pés na lama de ruas sem asfalto, sem esgoto e caminhasse nas praças dos bairros mais afastados, onde a juventude e a infância estão ociosas, sendo espreitadas pelo tráfico de droga e o crime organizado. Mas, quem disse?
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br