O maior desafio da imprensa, nos dias atuais, é o combate à desinformação em tempos de noticias falsas, as chamadas fake news, propagadas na internet e que ameaçam a democracia em todo o mundo ao influenciar o resultado das eleições. Enquanto na Venezuela o regime do presidente Nicolás Maduro ainda usa a força de uma ditadura à moda antiga, nos países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, as redes sociais e seus algorítimos são as armas para induzir mentes e corações, desestabilizando a democracia.
Embora seja necessário que a grande mídia lute pela liberdade de imprensa e de expressão, direito fundamental de um cidadão em um regime democrático, foi criado um grande fosso pela velha mídia desde os tempos em que ela dava todas as cartas, como única referência em produzir e propagar informações, decidindo o que a opinião pública deveria ou não ler/ouvir/assistir.
Da grande imprensa aos pequenos veículos de comunicação nos mais longínquos recônditos deste país dos coronéis, a imprensa tornou-se o quarto poder, mas sempre de conluio com os demais poderes, especialmente de mãos dadas com os políticos em defesa de interesses partidários. Em Roraima, por exemplo, na década de 1980, quando cada grupo político tinha seu veículo de comunicação, quem quisesse saber “a verdade dos fatos” teria que comprar os jornais da oposição, da situação e dos que se disfarçavam de isentos (ou não partidários). Ainda assim, havia situações que não ficavam bem claras porque cada um mentia ou omitia a seu favor (outras vezes por medo mesmo).
A opinião pública sempre soube da grande farsa da mídia, mas procurava eleger como referência os que se disfarçavam bem, o que significa dizer aqueles que adotavam técnicas requintadas de se parecerem isentos ou plurais. E a grande sacada da velha imprensa, antes do advento das fake news, não era publicar este ou aquele conteúdo, mas não publicar aquilo que feria seus interesses e o de seus grupos políticos e empresariais.
Aqui está o grande fosso que se construiu entre o antes e o depois da internet. O poder da comunicação não estava necessariamente em mentir ou disfarçar, mas em não publicar. Desta forma, não existia aquilo que a imprensa não noticiava; não existia fome na África se nada saía na imprensa; não existia guerra do Oriente Médio se não havia notícia nos jornais; não existia esta ou aquela corrupção se os veículos de comunicação nada divulgavam.
Hoje a internet com suas redes sociais tornou-se o quinto poder, do qual faz parte o novo cidadão empoderado com internet, que agora pode se posicionar a qualquer momento por meio de postagem de textos, vídeos e fotos de qualquer lugar e a qualquer momento. Agora a velha mídia tenta se recriar, sem saber aonde tudo isso vai parar, pois os jornais não conseguem mais decidir o que a opinião pública deve saber nem têm mais o poder de ocultar a realidade que não os convém.
Devorada pela internet, a velha imprensa ainda enfrenta outro duro desafio: as grandes corporações, como Google e Facebook, que dão as ordens com seus algorítimos, faturam cada vez mais usando as notícias produzidas pela imprensa, que nada ganham por isso, e se tornaram campo fértil para as fake news, utilizadas também maliciosamente por outras grandes corporações para influenciar campanhas eleitorais mundo afora, inclusive no Brasil, faturando seus milhões.
Ferida de morte pelo que fez no passado, pelo conluio com a sujeira na política, mentindo em favor de seus interesses e escondendo fatos para manipular a opinião pública, a imprensa agora precisa combater o que ela sabia fazer muito bem, quando não havia internet: mentir ou omitir. Impossível saber aonde essa briga vai parar contra as fake news, mas é fato que a velha mídia prova do seu próprio veneno e agora terá que reaprender a andar, porque a opinião pública está pronta para agir, como se seus dispositivos móveis com internet fossem um punhal afiado pronto para degolar quem não aprender com esses novos tempos. Ou aprende. Ou morre.
*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br